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TIREÓIDE

Tireóide : “A Terrorista”

Se a medicina providenciasse uma mudança da nomenclatura dos órgãos humanos, e coubesse a eu dar outro nome a tireóide, não hesitaria em denominá-la de terrorista. Isso mesmo: terrorista! Aliás, desde minhas primeiras investigações acadêmicas sobre a tireóide já a chamava por este apelido. Não se assustem, mas devo confessar que o exagero é só aparente, pois ao percorrerem com as vistas o que está escrito nas páginas seguintes deste livro, perceberão que sou até moderado ao adjetivar a tireóide de terrorista.

Mas, como a tireóide ainda não sofreu alteração nominal, ao menos formalmente, vamos respeitar o seu nome, o que, entretanto, não nos impede de conhecermos melhor sua reputação.

A tireóide é um órgão de 12 a 20 gramas, localizado no pescoço, anterior à traquéia. Seu nome deriva do grego: thyreos = escudo e eidos = forma. De maneira mais simples, com relação à sua forma podemos compará-la a uma borboleta. Sob a sua custódia está a velocidade de metabolismo basal, que para encontrar-se em um padrão ótimo, necessita de quantidades normais dos hormônios da tireóide. Enfim, a tireóide deve estar funcionando direitinho senão..., Bem, vamos adiante.

No final da década de 1960, em alguns centros médicos do mundo iniciavam-se a partir de dosagens sanguíneas dos hormônios da tireóide os primeiros diagnósticos de disfunção tireoidiana (anormalidade do funcionamento da terrorista, digo, da tireóide).

Daí pode-se ter uma idéia do limite que nós, médicos, tínhamos a respeito do diagnóstico de doenças relacionada ou correlacionada com a disfunção tireoidiana, haja vista, que um alto percentual de desequilibrados mentais, internados como loucos em manicômios, tinham na verdade disfunção da tireóide não diagnosticada, e depois de reposto o hormônio da tireóide, ou resolvido seu excesso, era o fim da loucura. Aterrorizante, mas não terrorismo.

A apresentação global da metodologia diagnóstica para disfunção da tireóide para médicos do mundo todo surgiu na década de 1970. Déficit de raciocínio, distúrbio de comportamento, indisposição severa, sonolência ou insônia, ganho ou perda importante de peso, distúrbios menstruais sem causa ginecológica aparente, ou qualquer outro sinal ou sintoma que sugerisse fortemente alguma disfunção tireoidiana, era seguida de solicitação dos exames recém criados para detecção destas alterações. Com suspeitas simples não havia a pesquisa, já que os exames eram muito caros e não disponíveis a todos, e só forte suspeita justificava a procura. Porém na década de 1980, solidificou-se a idéia de que se esperássemos o aparecimento de grande suspeição da doença, além de deixarmos de dar uma montanha de diagnósticos, muito de ruim já estaria institucionalizado nesses organismos.

Que fique anotado que a disfunção tireoidiana pode ser um aumento na produção de hormônios, o que caracteriza o hipertireoidismo, ou uma diminuição, o que provoca o hipotireoidismo.

Apesar de menos freqüente o hipertireoidismo costuma ser clinicamente mais rico em sintomatologia, com palpitações, sudorese, insônia, emagrecimento, porém em pessoas de idade pode se expressar apenas como apatia, muitas vezes sendo equivocadamente diagnosticado apenas como depressão ou prenúncio de doença de Alzeihmer. Atemorizante, mas não terrorismo.

Quando se trata de crianças que nascem com hipotireoidismo a situação é muito mais séria, pois se o tratamento não for iniciado em até seis semanas de vida a deficiência mental é a regra. Daí a importância do teste do pezinho, pois é por meio deste procedimento, simples diga-se, que se diagnostica prematuramente, quando é o caso, o hipotireoidismo. Não foi por outra razão que as nossas autoridades políticas se mobilizaram a fim de tornarem obrigatório e gratuito por lei a realização do teste do pezinho. No início dos anos 80, precisamente no ano de 1984, o Estado de São Paulo foi o primeiro a tomar esta atitude, e a partir do ano de 1990, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, a obrigatoriedade e gratuidade do teste do pezinho ganhou âmbito nacional. Contudo, ainda assim, no início do novo século metade dos nascidos vivos no Brasil não fazia o teste, o que gerava em torno de 1000 crianças com déficit mental / ano, foi quando o Ministério da Saúde do Brasil, acertadamente, mudou a logística de cobertura para o teste, inclusive, estendendo o número de doenças pesquisadas.

E nesse ponto eu também passo pela história da saúde pública brasileira, ao mover uma campanha nacional referente à conscientização da importância do teste do pezinho. E ainda que, em virtude da minha dedicação à referida campanha, alguns “amigos” me tenham exposto com tristeza, covardia e prepotência, o contrário também me sucedeu, pois ao me entregar a esta nobilíssima causa tive oportunidade de conhecer pessoas que não somente deram sentido àquele projeto, mas também demonstraram desejo pela manutenção de princípios cristãos. Foi durante o período em que me encontrava completamente envolvido com a campanha que pude confirmar o entendimento de que a finitude terrena é a forma que Deus nos protege contra impérios insanos.

Carregarei com gratidão em meu coração para o resto de minha vida o Sr Antonio Ermírio de Moraes, detentor da honraria máxima que um homem pode e deve portar como virtudes, o trabalho e a honestidade; a sempre incansável Dra Zilda Arnes da Pastoral da Criança; Raul Dória que em meio a seus afazeres sempre destinou ajuda; Milú Vilela sempre escudeiro das causas sociais; Aracy, da Rede Globo de Televisão, que viabilizou a veiculação de dezenas de incursões diárias na programação global o comercial da campanha. E tantos outros amigos de verdade que estiveram conosco, e ajudaram para que a realização do teste do pezinho se aproxime hoje da totalidade de nascidos vivos. Orgulhosamente guardo os inúmeros telegramas a mim enviados pelo gabinete da Presidência da República em nome do Presidente em exercício à época, Sr. Fernando Henrique Cardoso. Mais para Fascismo com temperos de terror. Vitória dos aliados.

As doenças da tireóide não se limitam a déficits funcionais. Os nódulos da tireóide são motivos freqüentes de investigação médica em razão da possibilidade de malignidade desses nódulos, e ainda que mais de 90 % destes não sejam malignos a pesquisa deve ir à exaustão.

Tanto disfunções quanto alterações anatômicas, na maioria das vezes permite o controle ou cura, sendo que boa parte das complicações podem ser evitadas, ou seja, no mesmo tempo que se pergunta ao médico como estão as coisas com o colesterol, glicemia, ácido úrico, PSA, pressão arterial, andropausa ou menopausa etc., deve –se perguntar também sobre a quantas anda a tireóide. É melhor respeitá-la, lembre-se que simples nodulação na região anterior do pescoço não perceptível à palpação pode ser câncer e alterações simples dos níveis hormonais tireoidianos podem levar a depressão, irregularidade menstrual, ganho de peso, queda de cabelos, infertilidade, frigidez sexual, impotência. Agora sim, é ou não é terrorismo puro?


O texto acima encontra-se publicado no livro “TIREÓIDE PARA TODOS”, (editora Idéia e Ação), de autoria do Dr Antonio Carlos do Nascimento. Trata-se de uma abordagem sucinta do quanto sorrateiro pode ser o processo de instalação da doença tireoidiana e a desestabilização causada pelas doenças da tireóide não tratadas.

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